17 May 2011

velho chico


Kisses to the World  by Axel Wiewel (Flickr)
..Oh, Signore
fa' di me lo strumento della tua pace;
Là, dove è l'odio che io porti l'amore.
Là, dove è l'offesa che io porti il perdono.
Là, dove è la discordia che io porti l'unione.
Là, dove è il dubbio che io porti la fede.
Là, dove è l'errore che io porti la verità.
Là, dove è la disperazione che io porti la speranza.
Là, dove è la tristezza, che io porti la gioia.
Là, dove sono le tenebre che io porti la luce.
...
fa' ch'io non cerchi tanto d'essere consolato,
ma di consolare.
Di essere compreso, ma di comprendere.
Di essere amato, ma di amare.

Poiché è donando che si riceve,
è perdonando che si ottiene il perdono,
ed è morendo, che si risuscita alla vita eterna.
...
Preghiera di San Francesco

18 April 2011

cristal

Seagull by Koen Hillewaert
Sim, foi que nem um temporal/ Foi um vaso de cristal/ Que partiu dentro de mim/ Ou quem sabe os ventos/ Pondo fogo numa embarcação/ Os quatro elementos/ Num momento de paixão/ Deus, eu pensei que fosse Deus/ E que os mares fossem meus/ Como pensam os ingleses/ Mel, eu pensei que fosse mel/ E bebi da vida/ Como bebe um marinheiro de partida, mel/ Meu, eu julguei que fosse meu/ O calor do corpo teu/ Que incendeia meu corpo há meses/ Ar, como eu precisava amar/ E antes mesmo do galo cantar/ Eu te neguei três vezes/ Cais, ficou tão pequeno o cais/ Te perdi de vista para nunca mais / Mais, mais que a vida em minha mão/ Mais que jura de cristão/ Mais que a pedra desse cais/ Eu te dei certeza/ Da certeza do meu coração/ Mas a natureza vira a mesa da razão...
Música de Chico Buarque e Francis Hime

14 April 2011

tarde no campo

Picture by Konaboy ; Flickr
Caminho do campo verde / estrada depois de estrada.  Cercas de flores, palmeiras, / serra azul, água calada. Eu ando sozinha / no meio do vale. / Mas a tarde é minha Meus pés vão pisando a terra / Que é a imagem da minha vida:  tão vazia mas tão bela, / tão certa, mas tão perdida! Eu ando sozinha / por cima de pedras. / Mas a flor é minha.  Os meus passos no caminho / são como os passos da lua; vou chegando, vai fugindo, / minha alma é a sombra da tua.  Eu ando sozinha / por dentro de bosques. / Mas a fonte é minha. De tanto olhar para longe, / não vejo o que passa perto, meu peito é puro deserto. / Subo monte, desço monte Eu ando sozinha / ao longo da noite, / Mas a estrela é minha.

(Cecília Meireles)
Just love it

21 March 2011

away

Caterpillar in the tree/ How you wonder who you'll be/ Can't go far but can always dream/ Wish you may and wish you might/ Don't you worry/ Hold on tight/ I promise you/ There will come a day/ Butterfly fly away
Mount Assiniboine. Canadian Rockies by Rockwell Kent. Song:  Butterfly Fly, Miley Cyrus

20 March 2011

xadrez

Amor a gente sente. É uma coisa que move e empata de uma só vez. Inspira e atrapalha as idéias1. A gente tem amor que oferece e um não quer. Outro quer mas a gente não dá. E ainda vem um terceiro e diz (com outras palavras) pra deixar sobre a mesa. Mas daí o amor vira utilidade: de parceiro de dança a peso de papel. Não sei se amor move montanhas. Faz a gente viajar, escrever, pintar o cabelo. A gente às vezes até move de lugar pra satisfazer o amor da gente. Mas geralmente quem ama não quer que nada mude ou se mova. A montanha é que move. Minhas montanhas, suas montanhas, como num jogo de xadrez. É isso. Amor é um jogo de xadrez. Vencem os dois quando conseguem evitar o xeque-mate. Não é só na Pérsia e todo mundo sabe: se o rei está morto, a rainha provavelmente também. Morrem os monarcas de um lado, morrem também do outro. Pois é tudo o espelho de uma coisa só vista de ângulos diferentes. Claro, a rainha pode tomar outro marido, o que muitas vezes acontece. Mas daí já é outra história. Outro amor. O objetivo do jogo no amor é continuar jogando. Acabou, perdeu. Mas no amor e no xadrez é difícil evitar o confronto de coisas diferentes sem que uma oblitere a outra. E sempre há coisas diferentes. Por isto a gente tem a ilusão de que o meu rei é diferente do seu rei. Pra piorar, as pessoas sempre querem chegar a algum lugar. Ver resultados. Por isto as pessoas movem montanhas ― mesmo que a montanha não esteja atrapalhando. É incrível o poder do ser humano em mover montanhas de todos os tipos: reais, imaginárias, monetárias, culturais, alfandegárias. O amor não tem nada a ver com isso. A associação com a montanha foi uma idéia inventada pra desmoralizar o amor. Porque amor que não move montanha não se preza. Daí o amor míngua em auto-estima e morre. Pois o amor que eu sinto não move coisa alguma. Quisera eu! Mas não move. O amor que eu sinto não tem resultado algum ultimamente. Não inspira, não faz ninguém feliz, não constrói nada. Só existe. Quem ele quer o dispensa. Se outra pessoa chama, não vai porque é teimoso. Não importa, eu digo pra ele: você é o máximo! Tudo de bom. E isso nos faz, os dois, mais felizes. Digo o mesmo do amor dos outros. Amor, todo tipo de amor, é sempre lindo. Não se mede amor com gráficos, projeções e planilhas. O importante é não maltratar o amor. Só um amor cheio de si pode mover montanhas. Mas não precisa. Basta pensar que pode. Amor realizado pensa que pode tudo. E às vezes pode. Mas mesmo quando não pode é mais feliz.
1 Minhas idéias têm acento!

28 February 2011

2011

/ Vamos supor que já é 2011 (e eu estou tentando esconder o meu assombro). Será que eu volto? Ah, Alkandora, meu alter ego... Se ao menos Blogger oferecesse mais fontes do tipo non serif. Eu seria tão feliz.../

20 January 2009

por exemplo


Nada mais sábio
Art:Rene Magritte "La Trahison des Images"

tempo

O tempo passa varrendo — é um tufão invisível. Perdoa nem realidade virtual nem fantasia. Passaram-se um-dois-três anos e descobri o assalto no meu tempo. A minha identidade cibernética virando pó. Mas e daí? Peguei trem, voei de avião, fui fazer outras coisas. Escrevo menos quando faço ginástica ou namoro. São duas coisas que dão trabalho. Hoje, fazendo faxina eletrônica encontrei parte da memória que só existe em External HD. Nem sei mais se escrevi ou copiei. Bom, fora a mídia, o baú de lembrança é o mesmo. Às vezes o tempo passa e assopra as letras, embaralha as idéias (com acento) e deixa um tipo de rastro qualquer. Nem sempre dá pra se fazer uma ciência forênsica do pensamento. Entender o que passou. A intenção do autor foge dele próprio, não é mesmo? Hoje eu queria estar deitada na praia comendo a palavra dos outros. Época em que eu media o tempo de bronzeado pelo número de páginas de um livro. Saudades. Na verdade senti voltar meu amor pelas palavras. Revirando textos antigos encontrei umas pérolas de desgostos passados, hoje parecendo memória emprestada. Talvez eu ainda tenha algum insight vindo deste rascunho de coisas que fui, senti, pensei e que se empilham em múltiplos layers de mim mesma.

18 December 2006

neruda amanhece *

''Quem separa o ontem da noite e do hoje que emprenhava sua taça? E que lâmina de água incessante ou de bronze roído ou de gelo impediu que acudisse meu peito às chamas que me procriaram? E quem sou? Pergunto às ondas quando enfim naveguei sem navio e pude me dar conta que o mar eu mesmo o levava nos olhos. (...)"
[... eu anoiteço; todo o resto me abandona; e todos; o mundo é um grande mar aberto sem bússola]


(*) Manchete de um comentário de Flávio Viegas Amoreira / Trecho de Neruda/ Figura do artista João Mak http://joaomak.net/

15 December 2006

ho ho ho

...

...

Quem não estaria? ; )
Feliz Natal!

10 December 2006

tOut!

"Tout élan de mon esprit commence dans mon sang"
[ R a i n e r ..M a r i a ..R i l k e ]
(...) " terá começado hoje, amanhã, aujourd'hui, toujour/ não há mais o tempo como o conheci/ deitamos a cabeça sobre plumas/ me perguntou por que/ e eu digo: somente pra fazer o sangue fluir como uma lava ou doce/ pois precisávamos/  voava com asas de um pássaro negro, as mesmas do anjo negro se consumindo/ Me deitei nesta cama; precisava queimar/ faz um calor insuportável e hoje é lua cheia/ um céu cheio de luas/ por dentro um lago fervilhando, quente, frio/ Não conheço mais o tempo/ o que conheço? um compasso/ uma palavra pulsada/ e então soou o traço afiado del acordeón; ríspido/ precisava sonhar e sonhava/ o tango surgiu como um grito vindo de dentro; não mais parou/ a batida insistente do tango retumbou noites inteiras/ e continuou a tocar por dentro."
Ilustração mundana: "Carmine Café" de Bill Brauer. Trilha sonora: Gotan Project! (no último). A supracitada (no texto abaixo): Cecília Meireles.

Meu sangue, minha palavra, meu salto no escuro/ Quem saberá?/ Já que as criaturas mitológicas se esconderam por detrás daquela lua, me responde esta conterrânea: O sangue sabe-o!/ AHHH.... só me resta suspirar/ E clamar: Gotan! (não o vampiro, exilado, mas a marcha musical)/  Santa Maria!/ Minha derrocada inútil para além dos muros de Fiji/ Quando é que me espera o emissário apocalíptico? Como era mesmo? "Até que o seu fogo veemente nos consuma sem a consumir" diz ela / Que me consuma!/ Eu espero sentada a próxima lua/ Tão despeitada quanto Nietzsche, me proclamo brasa e carvão a um só tempo.

05 December 2006

...

A lua está cheia...

03 December 2006

eles


( ... ) Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira; ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
"Por não estarem distraídos" de Clarice Lispector
[ Picture: "Beijo" de Rubens Gerchman ]

02 December 2006

oe


Poesia lenhosa... (é nome de livro)
/preciso de mais minutos/

nOt

porque tem dias que
é melhor "não"
"Not Now" by Will Fowler

fOm!

" — Lancinante é quando o mal vem acompanhado de surpresa. Porque coisa ruim já não é bom. Imagina ser pego de calças na mão! (ninguém há de merecer). Depois, pra além do desgosto, a decepção humilhante de saber-se enganado. Constatado o fiasco do seu intelecto. Mais tarde ainda a assanhada raiva frente-a-por-causa-da cósmica traição. E o desterro do objeto de crença lançado ao mar da sua pueril vergonha. Morre fé infeliz! Morre confiança inverossímil! Morre desgraçada — obtusa ilusão desfeita num tropeço em praça pública! Morre, que a multidão de invisíveis superegos ri de ti até molhar as invisíveis ceroulas. "
...
"fonobrejo e lengalengas" ou "o grito" ou "lamúria das tralhas sensíveis";
["Homem, esquece!" já dizia Nietzsche] [ data indeterminada e 'inexpirante']

18 November 2006

sublimação


"Pelo amor de deus/ Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem/ Não vê que deus até fica zangado vendo alguém/ Abandonado pelo amor de deus/ Ao nosso senhor/ Pergunte se ele produziu nas trevas o esplendor/ Se tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a flor/ Criado pra adorar o criador/ E se o criador/ inventou a criatura por favor/ Se do barro fez alguém com tanto amor/ Para amar nosso senhor/ Não, nosso senhor/ Não há de ter lançado em movimento terra e céu/ Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel/ Pra circular em torno ao criador/ Ou será que o deus/ Que criou nosso desejo é tão cruel/ Mostra os vales onde jorra o leite e o mel/ E esses vales são de deus/ Pelo amor de deus/ Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem/ Não vê que deus até fica zangado vendo alguém/ Abandonado pelo amor de deus..."
...
Hoje decorri mergulhada na voz de Maria Rita... Música move, embala. E eu desejava faze-la brotar aqui.
...
Como ressaltou Wisnik na leitura do belo conto de Guimarães Rosa: palavra é som; o próprio som, poesia. A letra de Chico e a música de Edu Lobo juntas são duas, três vezes poesia. Na voz de Maria Rita.. quatro, cinco, dez vezes poesia. E se coincide com nossa voz interior... é poesia incalculável. Estava certo o poeta... a música é uma forma de oração. Sobre todas as coisas. Sim. Estrela. Estrela. Criador. Criatura. Fantasia. Em mim: saudades.
...


"Estrela, estrela... / Como ser assim...?/ Tão só, tão só.../ E nunca sofrer./
Brilhar, brilhar/ Quase sem querer/ Deixar, deixar/ Ser o que se vê./No corpo nu da constelação/ Estás, estás sobre uma das mãos/ E vais e vens como um lampião/ Ao vento frio de um lugar qualquer./ É bom saber que és parte de mim/ Assim como és parte das manhãs./ Melhor, melhor é poder gozar/ Da paz, da paz que trazes aqui./ Eu canto, eu canto/ Por poder te ver/ No céu, no céu/ Como um balão/ Eu canto e sei que também me vês/ Aqui, aqui com essa canção." [Vitor Ramil]

...
"ps's": 1. "O Recado do Morro" de Guimarães Rosa, com toda a profundidade da obra deste, é de ser lido duas vezes à sombra de uma palmeira; 2. Da série 'Grandes Cursos Cultura Na TV', a preleção do genial músico e ensaísta José Miguel Wisnik vale a pena ser ouvida até de olhos fechados pra se saborear bem (e é de graça! http://www.tvcultura.com.br/default.aspx ); 3. Creio que Vinicius me perdoaria por estender a religiosidade para além do samba; 4. Tentando encontrar a transcrição da palestra de Wisnik descobri um assombro. Anos atrás uma das apresentações que mais marcou a existência dos meus sentidos foi a dança mineira do Grupo Corpo encenada no Palácio das Artes de Belo Horizonte. Perfeita. Na trilha, composições de Ernesto Nazareth, um dos meus prediletos (!); e não é que tinha um dedo (e o cérebro) de Wisnik também ali? 5. Sacralidade, pra mim, é isto, coincidência de preciosidades: Minas; Ernesto; Wisnik; Corpo; Rosa; Palavra; Chico; Edu; Maria; Ramil. Um compêndio de divindades. Só assim me ajoelho... e rezo; 6. Prece... involuntária decorrência de momentos de êxtase; 7. A imagem é de Isabella Rosellini... cuja beleza inspira tanto quanto música.


14 November 2006

just perfect

daisies blow by koen http://www.flickr.com/photos/d_oracle/


We'll do it all / Everything / On our own □ We don't need / Anything / Or anyone □ If I lay here / If I just lay here / Would you lie with me and just forget the world? □ I don't quite know / How to say / How I feel □ Those three words / Are said too much / But not enough □ If I lay here / If I just lay here / Would you lie with me and just forget the world? □ Forget what we're told / Before we get too old / Show me a garden that's bursting into life □ Let's waste time / Chasing cars / Around our house □ I need your grace / To remind me / To find my own □ If I lay here / If I just lay here / Would you lie with me and just forget the world? □ Forget what we're told / Before we get too old / Show me a garden that's bursting into life □ All that I am / All that I ever was / Is here in your perfect eyes, they're all I can see □ I don't know where / Confused about how as well / Just know that these things will never change for us at all □ If I lay here / If I just lay here / Would you lie with me and just forget the world?
[ 'chasing cars' by snow patrol]
...
From what's left of my heart... thank you.

qui?

" (...) Con alivio, con humillación, con terror , comprendió que él también era una apariencia, que otro estaba soñándolo."

(...) Com alívio, com humilhação, com terror, compreendeu que era também aparência, que outro o estava sonhando. /'Las ruinas circulares'; Jorge Luis Borges/