20 March 2011

xadrez

Amor a gente sente. É uma coisa que move e empata de uma só vez. Inspira e atrapalha as idéias1. A gente tem amor que oferece e um não quer. Outro quer mas a gente não dá. E ainda vem um terceiro e diz (com outras palavras) pra deixar sobre a mesa. Mas daí o amor vira utilidade: de parceiro de dança a peso de papel. Não sei se amor move montanhas. Faz a gente viajar, escrever, pintar o cabelo. A gente às vezes até move de lugar pra satisfazer o amor da gente. Mas geralmente quem ama não quer que nada mude ou se mova. A montanha é que move. Minhas montanhas, suas montanhas, como num jogo de xadrez. É isso. Amor é um jogo de xadrez. Vencem os dois quando conseguem evitar o xeque-mate. Não é só na Pérsia e todo mundo sabe: se o rei está morto, a rainha provavelmente também. Morrem os monarcas de um lado, morrem também do outro. Pois é tudo o espelho de uma coisa só vista de ângulos diferentes. Claro, a rainha pode tomar outro marido, o que muitas vezes acontece. Mas daí já é outra história. Outro amor. O objetivo do jogo no amor é continuar jogando. Acabou, perdeu. Mas no amor e no xadrez é difícil evitar o confronto de coisas diferentes sem que uma oblitere a outra. E sempre há coisas diferentes. Por isto a gente tem a ilusão de que o meu rei é diferente do seu rei. Pra piorar, as pessoas sempre querem chegar a algum lugar. Ver resultados. Por isto as pessoas movem montanhas ― mesmo que a montanha não esteja atrapalhando. É incrível o poder do ser humano em mover montanhas de todos os tipos: reais, imaginárias, monetárias, culturais, alfandegárias. O amor não tem nada a ver com isso. A associação com a montanha foi uma idéia inventada pra desmoralizar o amor. Porque amor que não move montanha não se preza. Daí o amor míngua em auto-estima e morre. Pois o amor que eu sinto não move coisa alguma. Quisera eu! Mas não move. O amor que eu sinto não tem resultado algum ultimamente. Não inspira, não faz ninguém feliz, não constrói nada. Só existe. Quem ele quer o dispensa. Se outra pessoa chama, não vai porque é teimoso. Não importa, eu digo pra ele: você é o máximo! Tudo de bom. E isso nos faz, os dois, mais felizes. Digo o mesmo do amor dos outros. Amor, todo tipo de amor, é sempre lindo. Não se mede amor com gráficos, projeções e planilhas. O importante é não maltratar o amor. Só um amor cheio de si pode mover montanhas. Mas não precisa. Basta pensar que pode. Amor realizado pensa que pode tudo. E às vezes pode. Mas mesmo quando não pode é mais feliz.
1 Minhas idéias têm acento!

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