30 June 2006

(vera negra)


Entre lojas de flores e de sapatos, bares,/ mercados, butiques/ viajo/ num ônibus Estrada de Ferro – Leblon/ Volto do trabalho, a noite em meio,/ fatigado de mentiras. / O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,/ relógio de lilases, concretismo, / neoconcretismo, ficções de juventude, adeus,/ que a vida/ eu a compor à vista aos donos do mundo./ Ao peso dos impostos, o verso sufoca,/ a poesia agora responde a inquérito policial-militar. / Digo adeus à ilusão/ Mas não ao mundo. Mas não à vida,/ Meu reduto e meu reino./ Do salário injusto, /da punição injusta,/ da humilhação, da tortura,/ do terror,/ retiramos algo e com ele construímos um artefato / um poema/ uma bandeira.

["Agosto 1964" by Ferreira Gullar]

coisas

“ (...) Não sei mais que algumas coisas/ sobre o mundo,/ seu estrondo/ e as mil ciladas/ da primavera.
[ Hugo Gutiérrez Vega; em "Outros poemas, 1994 ]