18 December 2006

neruda amanhece *

''Quem separa o ontem da noite e do hoje que emprenhava sua taça? E que lâmina de água incessante ou de bronze roído ou de gelo impediu que acudisse meu peito às chamas que me procriaram? E quem sou? Pergunto às ondas quando enfim naveguei sem navio e pude me dar conta que o mar eu mesmo o levava nos olhos. (...)"
[... eu anoiteço; todo o resto me abandona; e todos; o mundo é um grande mar aberto sem bússola]


(*) Manchete de um comentário de Flávio Viegas Amoreira / Trecho de Neruda/ Figura do artista João Mak http://joaomak.net/

15 December 2006

ho ho ho

...

...

Quem não estaria? ; )
Feliz Natal!

10 December 2006

tOut!

"Tout élan de mon esprit commence dans mon sang"
[ R a i n e r ..M a r i a ..R i l k e ]
(...) " terá começado hoje, amanhã, aujourd'hui, toujour/ não há mais o tempo como o conheci/ deitamos a cabeça sobre plumas/ me perguntou por que/ e eu digo: somente pra fazer o sangue fluir como uma lava ou doce/ pois precisávamos/  voava com asas de um pássaro negro, as mesmas do anjo negro se consumindo/ Me deitei nesta cama; precisava queimar/ faz um calor insuportável e hoje é lua cheia/ um céu cheio de luas/ por dentro um lago fervilhando, quente, frio/ Não conheço mais o tempo/ o que conheço? um compasso/ uma palavra pulsada/ e então soou o traço afiado del acordeón; ríspido/ precisava sonhar e sonhava/ o tango surgiu como um grito vindo de dentro; não mais parou/ a batida insistente do tango retumbou noites inteiras/ e continuou a tocar por dentro."
Ilustração mundana: "Carmine Café" de Bill Brauer. Trilha sonora: Gotan Project! (no último). A supracitada (no texto abaixo): Cecília Meireles.

Meu sangue, minha palavra, meu salto no escuro/ Quem saberá?/ Já que as criaturas mitológicas se esconderam por detrás daquela lua, me responde esta conterrânea: O sangue sabe-o!/ AHHH.... só me resta suspirar/ E clamar: Gotan! (não o vampiro, exilado, mas a marcha musical)/  Santa Maria!/ Minha derrocada inútil para além dos muros de Fiji/ Quando é que me espera o emissário apocalíptico? Como era mesmo? "Até que o seu fogo veemente nos consuma sem a consumir" diz ela / Que me consuma!/ Eu espero sentada a próxima lua/ Tão despeitada quanto Nietzsche, me proclamo brasa e carvão a um só tempo.

05 December 2006

...

A lua está cheia...

03 December 2006

eles


( ... ) Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira; ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
"Por não estarem distraídos" de Clarice Lispector
[ Picture: "Beijo" de Rubens Gerchman ]

02 December 2006

oe


Poesia lenhosa... (é nome de livro)
/preciso de mais minutos/

nOt

porque tem dias que
é melhor "não"
"Not Now" by Will Fowler

fOm!

" — Lancinante é quando o mal vem acompanhado de surpresa. Porque coisa ruim já não é bom. Imagina ser pego de calças na mão! (ninguém há de merecer). Depois, pra além do desgosto, a decepção humilhante de saber-se enganado. Constatado o fiasco do seu intelecto. Mais tarde ainda a assanhada raiva frente-a-por-causa-da cósmica traição. E o desterro do objeto de crença lançado ao mar da sua pueril vergonha. Morre fé infeliz! Morre confiança inverossímil! Morre desgraçada — obtusa ilusão desfeita num tropeço em praça pública! Morre, que a multidão de invisíveis superegos ri de ti até molhar as invisíveis ceroulas. "
...
"fonobrejo e lengalengas" ou "o grito" ou "lamúria das tralhas sensíveis";
["Homem, esquece!" já dizia Nietzsche] [ data indeterminada e 'inexpirante']