04 April 2006

o mar

Me habéis preguntado qué hila el crustáceo entre sus / patas de oro / y os respondo: El mar lo sabe./ Me decís qué espera la ascidia en su campana transparente? Qué espera?/ Yo os digo, espera como vosotros el tiempo./ Me preguntáis a quién alcanza el abrazo del alga Macrocustis?/ Indagadlo, indagadlo a cierta hora, en cierto mar que conozco./ Sin duda me preguntaréis por el marfil maldito del / narwhal, para que yo os conteste/ de qué modo el unicornio marino agoniza arponeado./ Me preguntáis tal vez por las plumas alcionarias que tiemblan/ en los puros orígenes de la marea austral?/ Y sobre la construcciòn cristalina del pòlipo habéis barajado, / sin duda, / una pregunta más, desgranándola ahora?/ Queréis saber la eléctrica materia de las púas del fondo?/ La armada estalactita que camina quebrándose? / El anzuelo del pez pescador, la música extendida / en la profundidad como un hilo en el agua?/ Yo os quiero decir que ésto lo sabe el-mar, que la vida en sus/ arcas/ es ancha como la arena, innumerable y pura/ y entre las uvas sanguinarias el tiempo ha pulido/ la dureza de un pétalo, la luz de la medusa/ y ha desgranado el ramo de sus hebras corales/ desde una cornucopia de nácar infinito./ Yo no soy sino la red vacía que adelanta/ ojos humanos, muertos en aquellas tinieblas,/ dedos acostumbrados al triángulo, medidas/ de un tímido hemisferio de naranja./ Anduve como vosotros escarbando/ la estrella interminable, / y en mi red, en la noche, me desperté desnudo, / única presa, pez encerrado en el viento.
...
Me tendes perguntando que fia o crustáceo entre as suas patas de ouro... e eu vos respondo: O mar o sabe. Me dizeis o que espera a ascídia em seu sino transparente? Que espera? Eu voz digo, espera como vós, o tempo. Me perguntais a quem alcança o abraço da alga Macrocustis...? Indagai-o, indagai-o à certa hora, em certo mar que eu conheço. Sem dúvida me perguntareis pelo marfim maldito do narval, para que eu vos responda de que modo o unicórnio marinho agoniza arpado. Me perguntais talvez pelas plumas alcionárias que tremem nas puras origens da maré astral? E sobre a construção cristalina do pólipo tereis embaralhado sem dúvida uma pergunta a mais, debulhando-a agora? Quereis saber a elétrica matéria das puás do fundo? A armada estalactita que caminha se quebrando? O anzol do peixe pescador, a música estendida na profundidade como um fio n'água? Eu quero dizer-vos que isto sabe o mar, que a vida em suas arcas é vasta como a areia, inumerável e pura e entre as uvas sanguinárias o tempo poliu a dureza duma pétala, a luz da medusa, e debulhou o ramo de suas fibras corais de uma cornucópia de nácar infinito. Eu não sou mais que a rede vazia que mostra olhos humanos, mortos naquelas trevas, dedos acostumados ao triângulo, medidas de um tímido hemisfério de laranja. Andei como vós escarvando a estrela interminável, e na minha rede, à noite, acordei nu, única presa, peixe encerrado no vento."
[ Pictures by Pedro Vanzeler Colaço]
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["Los Enigmas" Pablo Neruda] [Tradução desconhecida]

distancia justa

En el amor, y en el boxeo
todo es cuestión de distancia


Si te acercas demasiado me excito
me asusto
me obnubilo digo tonterías
me echo a temblar

pero si estás lejos
sufro entristezco
me desvelo
y escribo poemas
como el trueno



[poem by Cristina Peri Rossi] [ Dues Dones by Antoni Torres]


closer

Da primeira vez em que vi este filme achei que fosse uma questão de distância. Mas depois vi se tratar de pura perspectiva. Como é que a gente complica até mesmo a realização de um desejo básico? E, lembrando as declarações de minha mãe sobre o que move um amor maduro (tantas outras coisas menos amor) me ocorreu que os desejos nem sempre são tão simples — ou assim, rompidas algumas fronteiras... que o desejo mais simples (de felicidade) se complique a ponto de tornar-se um complexo emaranhado sem dono. Pois o próprio dono não mais o reconhece nem sabe o que é preciso pra satisfazê-lo. E o desejo acaba perdendo autoria; tornando-se outro cidadão do mundo (ou apenas transeunte nas nossas multidões). De novo Bertrand Russel — estou ficando repetitiva! (mas a culpa é do Koen, por me enviar a versão mais completa de "Analysis of the Mind"): Russel, ao dizer (de forma aqui bem resumida) que isto o que nos move nem sempre é o que parece ser ou sequer nos move na direção em que aparentamos ir. Ou ainda: sejam nossos desejos de repente tão estranhos a nós que achamo-nos mais ignorantes que macacos[1] a pensar que desejamos "A" quando de fato queremos "B". Parece que quase, senão todas as outras espécies animais têm um nível de "consciência" (mesmo que inconsciente) maior do que o nosso no que se refere ao ato de "desejar". No filme, quatro pessoas coexistem na confusão entre desejo e sonho entre todos os arquétipos e estereótipos de amor e união. Afinal... pra onde foi a noção do "necessário" — preciso do quê? E o que é que eu quero? Perdeu-se até mesmo a noção do amor. Melhor dizendo: da invenção que se apresentou como amor no começo da história. Mas... como tudo que o diz "não é fácil" sem dizer "impossível" me agrada... eu gostei. E é claro: gostei ainda mais porque estas quatro belezas clássicas falam com bem mais eloqüência da ignorância humana que a face a me confrontar todos os dias no espelho. Nem que a história fosse a mesma. E é — sempre a mesma história. O que me lembra agora um capítulo do televisivo "naked josh" sobre "contrato sexual". Tudo aquilo que a gente espera em troca... nem sempre de sexo, eu diria. Se, portanto, o amor é a idealização pelo fim de todos os contratos — o fim da troca em si; abrindo mão do idealismo eu me pergunto: o que será que a gente ganha com isto? Com a invenção do amor. Com a idéia de que aboliu-se a barganha. Será verdade? Ou a idéia romântica de amor não seria uma outra (nada nova) forma de contrato? Senão com o outro, com a nossa própria e desconhecida máquina de desejar. Mas então... outra pergunta: vale a pena se questionar acerca dos nossos desejos?

[1] Analogia de minha estrita responsabilidade! Pobre Russel


carência

(...) mais uma vera mera semelhança (além do ritmo) entre mim e o caramujo abaixo/ com tanto caramujo dando sopa em jardim/ fui logo encontrar com o providencial nome de : achatina fulica!/ vulgo caramujo africano... portanto desta vez eu escapo/ graças à cidadania italiana quem sabe/ e quem não faz a mínima idéia de sobre o que estou falando... / era isto mesmo: amizades!