02 March 2006

as liras

" (...) E como eu palmilhasse vagamente / uma estrada de Minas, pedregosa, / e no fecho da tarde um sino rouco / se misturasse ao som de meus sapatos/ que era pausado e seco; e aves pairassem/ no céu de chumbo, e suas formas pretas/ lentamente se fossem diluindo/ na escuridão maior, vinda dos montes / e de meu próprio ser desenganado,/ a máquina do mundo se entreabriu / para quem de a romper já se esquivava / e só de o ter pensado se carpia." (Andrade, 1987: 300)

liras drummondianas; e uma seqüência de palavras vendidas.../ diz-se do "eu" que busca e perdido se recompõe vagamente em seu niilismo cego ou desamparado/ assim como é existencial o ser que espia/ e à afoba queda por um tema ou então apenas em viagem contemplatória a observar a tal máquina do mundo/ ou ainda um cansaço lírico e diálogos entre os deuses e as criaturas e uma estrada povoada de respostas e de pedras passivas e outras não / as liras assim são drummondianas e inúmeras delas ou tantas mais de sugestivas, mas sem idéia alguma/ seguem elas portanto... apenas um retrato já visto em meu precário cosmorama e seus cascalhos desmascarados/ sendo este o mesmo cosmos negro que em outra era enxergavas/ (um olho de Drummond; uma visão jamais única; o mundo)/ Sempre ali. intransponível. intravenoso. intrépido... e trêmulo /
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Picture: "Sabará" by Guignard (1950)

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