04 April 2006

closer

Da primeira vez em que vi este filme achei que fosse uma questão de distância. Mas depois vi se tratar de pura perspectiva. Como é que a gente complica até mesmo a realização de um desejo básico? E, lembrando as declarações de minha mãe sobre o que move um amor maduro (tantas outras coisas menos amor) me ocorreu que os desejos nem sempre são tão simples — ou assim, rompidas algumas fronteiras... que o desejo mais simples (de felicidade) se complique a ponto de tornar-se um complexo emaranhado sem dono. Pois o próprio dono não mais o reconhece nem sabe o que é preciso pra satisfazê-lo. E o desejo acaba perdendo autoria; tornando-se outro cidadão do mundo (ou apenas transeunte nas nossas multidões). De novo Bertrand Russel — estou ficando repetitiva! (mas a culpa é do Koen, por me enviar a versão mais completa de "Analysis of the Mind"): Russel, ao dizer (de forma aqui bem resumida) que isto o que nos move nem sempre é o que parece ser ou sequer nos move na direção em que aparentamos ir. Ou ainda: sejam nossos desejos de repente tão estranhos a nós que achamo-nos mais ignorantes que macacos[1] a pensar que desejamos "A" quando de fato queremos "B". Parece que quase, senão todas as outras espécies animais têm um nível de "consciência" (mesmo que inconsciente) maior do que o nosso no que se refere ao ato de "desejar". No filme, quatro pessoas coexistem na confusão entre desejo e sonho entre todos os arquétipos e estereótipos de amor e união. Afinal... pra onde foi a noção do "necessário" — preciso do quê? E o que é que eu quero? Perdeu-se até mesmo a noção do amor. Melhor dizendo: da invenção que se apresentou como amor no começo da história. Mas... como tudo que o diz "não é fácil" sem dizer "impossível" me agrada... eu gostei. E é claro: gostei ainda mais porque estas quatro belezas clássicas falam com bem mais eloqüência da ignorância humana que a face a me confrontar todos os dias no espelho. Nem que a história fosse a mesma. E é — sempre a mesma história. O que me lembra agora um capítulo do televisivo "naked josh" sobre "contrato sexual". Tudo aquilo que a gente espera em troca... nem sempre de sexo, eu diria. Se, portanto, o amor é a idealização pelo fim de todos os contratos — o fim da troca em si; abrindo mão do idealismo eu me pergunto: o que será que a gente ganha com isto? Com a invenção do amor. Com a idéia de que aboliu-se a barganha. Será verdade? Ou a idéia romântica de amor não seria uma outra (nada nova) forma de contrato? Senão com o outro, com a nossa própria e desconhecida máquina de desejar. Mas então... outra pergunta: vale a pena se questionar acerca dos nossos desejos?

[1] Analogia de minha estrita responsabilidade! Pobre Russel


1 Comments:

Blogger Jason J said...

Nao sei muito de Bertrand Russell, rs... mas as ideias tuas sobre querer desejar o A ou o B me fizeram lembrar da palavra "plano." A gente ja filosofou um pouco sobre isso, né? Não acho tão dificil de saber... é so imaginar essas escolhas sentadas em cadeiras de praia e imaginar para qual cadeira voce se encaminharia, rs...

5:20 PM  

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